* Postado originalmente pela autora em 12/03/10!
Guia Afetivo da Periferia, livro de fatos memoráveis do autor na época de sua infância e juventude nos surpreende pela minúcia de detalhes sobre seus olhares pela cidade e como era, o que era, e como se vivia na periferia do Rio de Janeiro.
Em muitas passagens descritas é comum nos aproximarmos do relato deste autor-personagem relembrando ações passadas ou presentes no cotidiano suburbano.
Para aqueles que estão além dessa oportunidade, ele nos faz conhecer a vida de um indivíduo morador da periferia inserindo-nos como observadores dos ditames da vida.
Contudo certos trechos advindos de sua memória seletiva nos fazem refletir se tudo o que se passou é fato ou ficção. Eventos simultâneos gerando certas coincidências, excesso de clichês usados na orbe periférica fazem atrair certa desconfiança de tais evidências.
Seja no momento em que o autor narra a “gafe” que cometera ao costurar a etiqueta de marca famosa na camisa da escola para demonstrar que era “bem-apessoado” e deixar a mostra para que todos vissem ou quando relembra o fato da antena de televisão ser amparada pelo Bombril fazendo sintonizar a imagem. Porém, no exato momento que o filme iria começar a imagem tornava-se ruim ao contrário do que ocorria no intervalo para a chamada dos comerciais.
O auge dessa opinião se dá quando relata seu rápido encontro amoroso com uma nissei depois de suas constantes reflexões sobre o Japão.
Englobando toda essa discussão seria o autor-personagem uma espécie de imã que atraía todo tipo de acontecimento para sua vida, um tanto cômica, fantástica e exótica? Ou simplesmente selecionou as melhores passagens acrescentando um pouco de ficção ou relatou ocorridos totalmente ficcionais?
Entretanto no âmago destes relatos estão as evidências de uma narrativa social periférica que passa a ter voz e atualmente, se expande cada vez mais e indo contra a maré dos cânones literários.
FAUSTINI, Vinícius. Guia Afetivo da Periferia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009.